26 de janeiro de 2011

Capítulo Quatro - Lágrimas demais

            Eu a vi morrer em meus braços.
            Minha mãe não respirava mais, mas eu continuava ali abraçada com ela. O sangue dela se misturou com o meu e eu fiquei coberta por ele.
            O monstro havia sumido depois de um tempo. Não sei ao certo, mas quando olhei, ele não estava mais ali. Jamie e os outros Caçadores que restaram, incluindo meu irmão, recolhiam os corpos e os deitavam um ao lado do outro, juntando às mãos deles - como faziam quando Caçadores morriam juntos.
            Jamie se abaixou ao meu lado, o rosto molhado pelas lágrimas.
            - Becca, só falta sua mãe. - ele disse docemente. Eu respirei fundo e me levantei. Não ia adiantar ficar chorando. Ela estava morta, não ia voltar.
            Ajudei Jamie e Erick a levá-la e colocá-la ao lado dos Caçadores. Erick me abraçou, ele chorava também, e jogou as pétalas de uma rosa que estava em sua mão. Eu engoli as lágrimas, tinha que ser forte.
            Um dos Caçadores, Hugo, começou a dizer palavras sobre cada um dos que estavam mortos. Eu conhecia a maioria deles e fitei cada rosto enquanto ele falava. Quando chegou a vez da minha mãe, ele sorriu.
            - Becaella Belle, a melhor Caçadora que já existiu. Beca foi e sempre vai ser especial para cada um nós. Ela salvou nossas vidas inúmeras vezes e nos livrou de várias... aberrações, como ela e sua filha, Rebecca, se referiam a eles. Becaella morreu para nos salvar, para salvar sua filha. Eu vi. Ela correu para salvar Rebecca, que quase foi morta, e acabou sendo atingida por aquilo. Ela era assim, pensando em nós antes de pensar nela e sempre tentando nos salvar. Ah, Beca, você vai ser lembrada para sempre nos nossos corações. - ele piscou para afastar as lágrimas e pegou um frasco e um isqueiro.
            Hugo derramou o líquido do frasco por cada um deitado no chão e, com um suspiro, deixou que o isqueiro caísse. O fogo tomou conta dos corpos.
            Respirei fundo a fumaça. Era o que o Jamie chamava de Erva Mágica, o líquido que ninguém - a não ser aqueles que produziam - sabia o que era, apenas ande conseguir. Era costume queimá-los com isso e depois nós respirávamos a fumaça, para guardar uma parte deles em cada um de nós. Nunca entendi o porquê, mas eram coisas de Caçadores. Era a tradição.
            Erick me levou para casa, acompanhado por Jamie. Ninguém falava, mas eles pensavam a mesma coisa, eu podia sentir. Eles tinham visto, como Hugo, minha mãe correr e se jogar para tentar me salvar. E por isso, o monstro acertou metade do seu corpo, dilacerando tudo. Senti as lágrimas, mas me forcei a engoli-las. Não era hora para fraquezas.
Minha mãe morreu para me salvar, a frase se fixou em minha mente.
            Naquele momento eu decidi duas coisas. A primeira: eu não seria mais Rebecca. Meu pai chamava minha mãe assim. Não sei o porquê, talvez pelo apelido dela ser Beca. Não tive a chance de perguntar a ele – meu pai morreu quando eu ainda não tinha quatro anos – e quando falava sobre isso com a minha mãe ou Erick, eles trocavam de assunto ou apenas diziam que era doloroso demais pensar nele.
Eu sei que recebi esse nome porque era muito parecida com ela. E eu gostava muito dele, mas meu nome foi dela primeiro e não queria me lembrar do momento que ela morreu toda vez que ouvisse alguém me chamar ou simplesmente falar comigo. Eu iria ser apenas Belle agora, meu sobrenome. Belle, a Caçadora esquisita. Nada mais que isso.
            A segunda coisa que eu decidi é que eu iria vingá-la. Eu ia atrás daquela aberração e ia matá-la.

Um comentário: